quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Películas

Pensando que a gente pode trocar figurinhas sobre cinema e na tentativa de amenizar a frustração de não ter conseguido formar um cine-clube papa-jaca, inauguro no Puluxia a sessão Películas.

Vou começar por algo que assisti recentemente, me impressionou muito e está disponível nas locadoras (pelo menos na Art). Trata-se de “O visitante” (2007) de Thomas McCarthy, o mesmo diretor de “O agente da estação”. Ele é roteirista e ator, nasceu em New Jersey e tem 43 anos. O filme é norte americano e dizem que é independente, mas eu não sei o que é mesmo cinema independente hoje.

No primeiro plano, a trama aborda o problema da imigração norte-americana pós 11-09. Walter, o personagem principal, interpretado de forma acertadíssima por Richard Jenkins (que sempre faz papéis de coadjuvante), tem 62 anos e é um professor universitário da pior qualidade. Não dá a mínima pra seus alunos, nem pra disciplina, nem pra instituição em que trabalha. É indiferente, letárgico e falso. Uma múmia de academia. Esse sujeito (argh!) conhece, em uma situação absolutamente inusitada, um casal de imigrantes, Zainab e Tarek. Ela, uma artesã senegalesa, linda, desconfiada, sofrida. Ele, um músico sírio, gato, sedento de vida, de sorriso enorme e franco. O cenário não poderia ser mais apropriado: Nova York e sua diversidade cultural, as ruas, parques, metrô e a horrorosa estátua da liberdade, que aparece quando em vez tornando a situação da caça aos imigrantes um paradoxo ainda maior.

Além das excelentes interpretações, destaco o poder da música, que na película funciona como um ponto de intersecção e de ancoragem dos personagens Walter e Tarek. A paixão pela música mantém a conexão deles com o mundo e deslegitima lugares socialmente estabelecidos. A música é um atravessamento das identidades, da cultura, dissolve intolerâncias, promove empatia. No mais, o filme retrata com muita sutileza o preconceito e a discriminação raciais, o exílio compulsório, a solidão contemporânea e a beleza do encontro nas relações humanas sem embarcar no melodrama. Desfecho fácil, nem pensar. Como diria mainha, um brinco!

Indaiara Silva - Professora e cinéfila

2 comentários:

  1. O filme é bom mesmo, recomendo. o texto da colunista é melhor ainda.

    Aquilino

    ResponderExcluir
  2. É bom ter críticos de cinema entre nós, e amigos que curtem e indicam. Eu sou o anti-cinéfilo. Já discuti isso com Aquilino algumas vezes. Assisto, vou ao cinema, mas geralmente sob indicação. Por isso queria que desse certo isso de cada um ir dando a sua opinião sobre livros, vinhos, filmes, receitas, o diabo. (tamo há algum tempo com umas idéias pra tornar visuais fora do cérebro, eu, Aquila, Alana, Karina e outros - falta perna - "com fé em deus eu não vou morrer tão cedo".)
    Alves Grapiúna

    ResponderExcluir