quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Zói de cabra tonta

Ouvi a expressão zói de cabra tonta lendo Sagarana, de Guimarães Rosa. Pode soar estranho dizer que ouvi algo enquanto lia, mas é o que acontece quando a gente lê as coisas do cara. As palavras ecoam e ficam zunindo. Dá pra ouvir a voz de cada personagem distintamente, cada qual com seus trejeitos.
Não me lembro o nome da personagem nem tampouco em que passagem do livro ele disse isso. O livro não está mais comigo, numa malograda tentativa de sedução emprestei a uma certa dona que não demonstrou nenhum interesse pelo Guimarães, que dirá por mim.
Zói de cabra tonta é aquele jeito negoçado de olhar que algumas mulheres têm e que fica entre o tímido e o sonso. É tão sutil e dissimulado que a gente só vê a parte branca dos olhos. Mas, mesmo assim, ficamos com aquela certeza meio duvidosa de que tá olhando pra nós.

Ilton Candido

Um comentário:

  1. Ilton,

    Tenho um gosto especial por Guimarães Rosa. Adquiri certos livros dele e de vez em quando leio, releio, degusto, enfim, como você bem falou, ouço os personagens falando pra gente coisas que a gente bem entende.

    Fui pesquisar na net o que tinha sobre o trecho. E também no livro Sagarana, que tenho em mãos agora. O trecho é do conto Duelo, e quem o fala é Turíbio Todo, marido traído, que se vinga, matando o traidor: "Bem, quinta-feira de manhã, Turíbio Todo teve por terminado os preparativos, e foi tocaiar a casa de Cassiano Gomes. Viu-o à janela, dando às costas para rua. Turíbio não era mau atirador; baleou o outro bem na nuca (...)

    "Nem por sonhos pensou em exterminar a esposa (Dona Silivana tinha grandes olhos bonitos, olhos de cabra tonta)"

    (na busca, encontrei um ensaio sobre o conto,
    http://www.portuguesdobrasil.net/pdf/analise do conto duelo.pdf)

    Jai Alves

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